terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quem tem medo do ensino a distância

QUEM TEM MEDO DO ENSINO A DISTÂNCIA


Consuelo Tereza Fernandez Gonçalves, é pedagoga, com mestrado em Tecnologia da Educação (INPE), foi professora de disciplina de Educação a Distância, atuou no CENAFOR em projetos de capacitação, foi professora de 2º. grau nas cidades de Petrópolis e Teresópolis. Atualmente participa da equipe de educação a distância do SENAI-SP, planejando e produzindo materiais impressos, bem como projetando e implementando esquemas operacionais em educação a distância.

APRESENTAÇÃO

As palavras do presidente Fernando Henrique funcionaram como uma varinha mágica...
O Ensino a distância está na "crista da onda". Os "surfistas intelectuais" estão alvoroçados...
_ É o caminho para a salvação da educação no Brasil... dizem uns.
_ Por meio do ensino a distância, finalmente, será possível oferecer uma educação de qualidade para todos... dizem outros.
_ É a democratização do ensino, afinal... ouve-se também.
Ensino a distância... tão execrado... tão humilhado por tanto tempo... será que conseguirá superar toda a adulação de que está sendo alvo? Será que sobreviverá a tanto assédio? Será que terá condições de satisfazer a tantas esperanças? Será que obterá a tão sonhada credibilidade depois de tanta manipulação, de tanta exploração?
Quem sabe? Como diz o filósofo: "... só o tempo dirá".
Mas, o que é o ensino a distância? Que magia, que mistérios ele nos reserva?
Poderíamos gastar folhas e folhas de papel tentando responder a essas perguntas.

No entanto, parece importante, nessa hora de tanta expectativa, que se procure, com toda a objetividade possível, por em discursão alguns de seus aspectos fundamentais. Não sendo apenas pelo exercício de reflexão, que seja, também, pela facilitação e adequação da prática.
É nesse sentido que nos propomos a explorar algumas idéias sobre essa questão.

Para começar, uma dúvida:

1.Ensino a distância, educação a distância, aprendizagem a distância?

Seja qual for o nome que assuma, o que caracteriza essa estratégia (ou modalidade, como alguns preferem) educacional é, em última análise, a separação entre professor e aluno. O contrato entre esses dois personagens é mediado. Isto quer dizer que acontece por meio de outros recursos que não a exposição oral de um docente. Neste sentido, pode-se dizer que, no ensino a distância, a atividade de ensino se realiza em um momento anterior à de aprendizagem (em termos mais precisos, ao esforço inicial de aprendizagem, pois entendemos que aprendizagem é um processo interno, que não se restringe ao momento de contato de um aluno com o seu professor.).

Com estas palavras não queremos negar que reconhecemos a diferença de enfoque na ação educacional quando nos referimos ao ensino a distância e à educação a distância. É óbvio, para os educadores, que quando o termo ensino vem adiante do termo "a distância", o que está em questão é apenas um aspecto, um ângulo do processo educacional: o ato de transmitir informação, de oferecer oportunidades para que o conhecimento seja construído, de organizar as condições de aprendizagem e assim por diante.

Da mesma forma, isso se repete quando é a aprendizagem que é qualificada pelo termo "a distância". Nesse caso, o foco está no esforço de adquirir a informação, de construir o conhecimento, de usufruir das condições oferecidas.

Se alguém, uma instituição por exemplo, se propõs a desenvolver educação a distância, isto significa que esse alguém está preocupado com algo além da transmissão de informações ou do desenvolvimento de habilidades motoras e intelectuais. Seu compromisso é mais amplo: é com o desenvolvimento da cidadania... é com a igualdade de oportunidades de acesso ao saber acumulado pelo homem ao longo de sua história. Para ela, educar engloba o ensinar... não o elimina, como muitos acreditam.

Enfim, inserido em um âmbito de ducação formal (aguela que acontece na escola e é sistematizada segundo normas oficiais dos órgãos de legislação educacional do país) ou informal (não sujeita a tal normalização), o ensino a distância assume, em sua operacionalização, as mais diferentes formas, que se distribuem ao longo de um continuum que vai desde a mais simples, caracterizada pelo "ensino por correspondência sem opoio de tutoria" (comunicação de "mão única", ou seja, educador-educando), até os mais sofisticados arranjos que incluem esquemas interativos de comunicação não-presencial através de satélite ou de redes informatizadas.
Estas colocações nos remetem para outra das muitas questões que envolvem o ensino a distância.

2.Ensino a distância com papel, sem papel... como?

Algumas das críticas que se fazem ao ensino a distância residem numa percepção restrita de suas possibilidades operacionais. Muitas delas se manifestam na forma de perguntas inúmeras vezes ouvidas, principalmente no âmbito da formação profissional: como ensinar a distância a alguém que mal sabe ler? Como fazer formação profissional a distância... sem prática?

A preocupação com aqueles que "mal sabem ler" evidencia uma concepção de ensino a distância construida a partir do ponto de vista do meio instrucional utilizado para sua realização: a palavra escrita, o material impresso. Por acaso, o uso do rádio, do vídeo, da fita cassete descaracterizam o que se chama ensino a distância? Por acaso as reuniões de estudo, os encontros períodicos, o contato direto com tutores, a prática supervisionada invalidam o uso do termo para situações em que tais atividades estejam incluídas?

Por outro lado, a preocupação com as atividades práticas explicita uma percepção de ensino a distância construída a partir de um modo de realizar a ação educacional; um modo que exclui do ensino a distância qualquer forma de presencialidade no processo. 









Diminuindo a distância no ensino a distância

Olá Amigos,

Achei muito pertinente essa crônica devido ao tema que escolhi para esse blog e gostaria de compartilha-la com vocês. Fica explicita a importancia da humanização da EAD para que os alunos sejam motivados e para isso é de suma importância que o tutor seja muito mais que um mero avaliador , seja também um reconhecedor de sonhos.Espero que gostem! Boa leitura!


Os "reclames" sempre traziam um cupom, e eu recortava todos. Receber coisas pelo correio me fazia sentir importante, dava status. Nem sabia o que era, mas queria ter. Minha irmã também, mas sem saber. É que informações para cursos femininos - cobrir botões, plissar saias, corte e costura - eu pedia em nome dela e esperava no portão. O carteiro devia achar que estava diante de um futuro estilista de moda, aquele menino como o estranho nome de "Angela". A ironia é que minha irmã é hoje estilista. Terá descoberto onde eu escondia os prospectos?

Após desfalcar o Instituto de toneladas de papel publicitário, decidi adquirir um curso. "Desenho Artístico". Adorava, mas detestava ler as instruções. Preferia imitar. Assimilava mais pela observação, as técnicas que as páginas artísticas transpiravam. E enviava os exercícios pelo e-mail de então, que exigia selos. Todos voltavam corrigidos por gente de verdade! Aquela nota manuscrita com Bic vermelha tinha para mim o valor do autógrafo de um mestre.

O que motivava o menino de então motiva hoje qualquer aluno a distância. Os meios mudaram - o papel virou monitor, o lápis é mouse e o correio ficou eletrônico. Mas o menino é o mesmo. Inquieto, indeciso e inconstante, qual beija-flor em floricultura. Como mantê-lo quieto na carteira por mais de trinta segundos? Não será com o puxão de orelha de dona Dinorah, minha professora de primeiro ano, nem com a candura da dona Aurora, professora do segundo. Então, o quê?

Com o bater virtual do bumbo da motivação, sem o qual remador nenhum vai calejar a mão. Primeiro, o suspense e a gratificação de cada descoberta, a técnica de Sherazade, ainda que o curso não dure mil e uma noites. Depois, um herói, a figura humana que atrai, cativa e seduz. Quem nunca ouviu da aluna que se apaixona pelo professor? Difícil é se apaixonar por um ensino a distância que não mostre um rosto sequer.

Então vem a associação com o mundo tangível, clara indicação dos resultados que seus resultados trarão. Porque não há nada mais tangível do que o sonho de cada um. No menino, era o prazer de ser distinguido com a atenção de uma organização, a presença humana implícita na nota vermelha manuscrita e o acreditar poder desenhar como os mestres das histórias em quadrinhos. No aluno via Web de hoje, o estímulo está na antecipação de que aquele endereço de três dáblios possa se transformar num emprego de muitos dígitos.

Só depois vem a pirotecnia - vídeo, áudio e design. Nossa geração televisiva dá a esta a importância primeira. Não tem. Lembro-me de Paulo Autran em um monólogo de duas horas. No palco, só um banco com seu talento em cima. O resto do cenário ficava por conta da imaginação. A mesma que todo ensino a distância deve buscar despertar, para o que é ensinado e para o seu resultado.

O que procurei fazer, num curso que desenvolvi para atendimento em consultórios. Porque nem todos têm Internet rápida, a mídia escolhida foi o CD para computadores. Vivemos uma fase de transição. Isto resolveu o que a lentidão de uma conexão poderia dificultar: incluir a figura humana em oito vídeos motivacionais, abrindo cada bloco de lições.

Mas, como instilar nos textos e exercícios aquela compulsão pela próxima lição? Público predominantemente feminino, intuitivo, capaz de mentalizar climas e situações, numa faixa etária de romantismo latente, ávido por novas emoções. Minha escolha foi firme: Novela! Não tele, mas rádio, que permite tantos cenários e feições quantas forem as espectadoras e expectações.

Foi assim que nasceu Eustáquia, a recepcionista da clínica do Dr. Perônio. Aluna dedicada, que aprende a atender o cliente com ninguém menos que o próprio. Aprende a encantar e a ficar encantada. Até que um dia... Bem, você me odiaria se eu contasse o final da novela.
Mario Persona é consultor, escritor e palestrante. Esta crônica faz parte dos temas apresentados em suas palestras.